TRAJANO DE MORAES: CENTENÁRIO DE CARMEN COSTA UMA HISTÓRIA PARA LEMBRAR PARA SEMPRE

Carmelita Madriaga, conhecida pelo nome artístico de Carmen Costa, nasceu na cidade de Trajano de Moraes, interior do estado do Rio de Janeiro em 05 de julho de 1920, quarta filha de um total de 8 filhos de Dona Avelina Maria Basilio e Seu Madriaga, se estivesse conosco viva comemoraria 100 anos neste ano de 2020.

Viveu em Trajano de Moraes sua infância até 10 anos, quando foi trabalhar como babá no Rio de Janeiro, depois de um tempo ao passar por dificuldades, voltou a sua terra natal. Sua infância não foi fácil, mas desde cedo demonstrava sua vocação para a música e o sonho de ser artista, apesar da oposição da mãe, que como quase todas as mães da época, achava que a carreira artística não traria segurança.

Zilmar Borges Basilio, sua sobrinha, contou a Nação Brasil que “O sonho de viver no Rio de Janeiro, porém, não morreu. E começou a aproximar-se da realidade quando um circo foi armado em Trajano de Moraes e despertou de vez sua sensibilidade artística. Tão apaixonada ficou pelos espetáculos que, em troca de um saco de feijão que ofereceu ao trapezista, conquistou o direito de conhecer os bastidores e ver os espetáculos quando desejasse. Na despedida do circo, só lhe vinha a cabeça a vida maravilhosa dos artistas, que podiam viajar a vontade por “esse mundão de Deus”.

Ouviu novamente o tio Euclides, que lhe chamou a atenção para o que parece óbvio, mas que nem todos compreendem: para ingressar na carreira artística teria de ter garra para superar todas as dificuldades. Ir a luta enfim. E foi o que ela fez. Viajou para o Rio e tratou de arranjar emprego para assegurar a sobrevivência.”

Aos 15 anos, quando mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, trabalhou inicialmente como cabeleireira e depois como empregada doméstica do cantor Francisco Alves, um grande nome do rádio e da música popular brasileira. Este emprego a deixava mais próxima de seu sonho de ser cantora. Nesta casa em uma festa ela teve a oportunidade de cantar para os convidados, entre eles a famosa Carmen Miranda que a incentivou a iniciar uma carreira e adotar um nome artístico.

Batalhando pelo seu sonho de seguir a carreira de cantora ela estudou muito até sentir-se preparada, ela inscreveu-se como caloura em uma competição musical no programa da rádio Tupi de Ary Barroso, e saiu vencedora com a nota máxima, onde cantou a valsa “Bonequinha de seda”, de Gilda de Abreu e Narbal Fontes. Classificou-se para a etapa final do concurso de calouros, onde cantou o samba “E o mundo não se acabou”, de Assis Valente, e conquistou o primeiro lugar. Daí em diante, surgiram muitos convites para apresentar-se em clubes, boates, e programas de rádio.

Conheceu o cantor e compositor Henrique Felipe da Costa (o Henricão), que a batizou de Carmem Costa, e passou a fazer parcerias com ele que fazia adaptações de musicas estrangeiras que renderam a Carmen dois dos maiores sucessos da sua carreira: as adaptações feitas no tango “Carmelito” e na canção mexicana “Cielito lindo”, que, na adaptação, virou “Está chegando a hora”.

Com a carreira em ascensão, passou a cantar em todo o Brasil, ficando conhecida por um timbre de voz magnífico e uma personalidade ímpar. “Carmem Costa é uma das maiores estilistas da música popular brasileira”, afirma o poeta e compositor Hermínio Bello de Carvalho, profundo conhecedor do assunto. No final da década de 40, na feira de Manaus, conheceu o americano Hans Van Koehler, com quem se casou mais tarde, o que a levou a dividir a sua vida entre o Rio de Janeiro e Nova York.

Apresentou-se inúmeras vezes em rádio, televisão, clubes e casas noturnas dos Estados Unidos, inclusive no famoso show que lançou a bossa nova naquele país, em dia 22 de novembro de 1962, no Concerto do Carnegie Hall, em Nova Iorque, ajudando a firmar o nome do Brasil e da Bossa Nova no exterior. Nos anos 50 voltou ao Brasil, quando conheceu o compositor Mirabeu Pinheiro, com quem viveu um romance e teve sua única filha, Silezia Madriaga.

Juntos tiveram sucessos como “Cachaça não é água” e “Obsessão”, Desta mesma época foi o samba-canção de Ricardo Galeno “Eu sou a outra” (“ele é casado/eu sou a outra na vida dele…”), que retratava uma situação que a própria Carmen vivia e, anos depois, assumia, enfrentou preconceito por se apaixonar por um homem casado em uma sociedade tradicional.

Sua última gravação foi com o cantor Elymar Santos, de quem era convidada especial em alguns shows. Faleceu em 2007 aos 87 anos, com uma longa carreira marcando um dos capítulos não só dos mais expressivos e bonitos da história da nossa música.

Em 2003, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou um projeto de iniciativa do Museu da República e tornando-a patrimônio cultural do Brasil. Em 2017 no 19º Encontro de Seresteiros a Prefeitura de Trajano de Moraes juntamente com o Diretor de Cultura Weber José Gomes e artistas locais prestaram uma homenagem, aqui ela é lembrada com carinho.

“Falar de Carmen Costa é manter sua memória viva, filha ilustre na nossa Trajano de Moraes, ela é merecedora de todas as homenagens com sua voz encantou o mundo inteiro através de suas canções” afirma o Secretário de Cultura Weber José Gomes.

Nossa Diva negra da música brasileira resistiu com sua voz talentosa desafiando os obstáculos como a pobreza, riscos e preconceitos que enfrentou ao sair do interior e investir na carreira artística. Realizou o sonhos de muitas sonhadoras como elas.

Seus sucessos imortalizados são entoados até hoje nos carnavais, os versos “Você pensa que cachaça é água”, de “Cachaça não é água”, e “Quem não chora não mama/Segura meu bem a chupeta”, da “Marcha do Cordão da Bola Preta”. Viva Carmen Costa!

POR ROSIANE FONSECA, HISTORIADORA

Link permanente para este artigo: https://trajanodemoraes.rj.gov.br/trajano-de-moraes-centenario-de-carmen-costa-uma-historia-para-lembrar-para-sempre/

Pular para o conteúdo