Viveu em Trajano de Moraes sua infância até 10 anos, quando foi trabalhar como babá no Rio de Janeiro, depois de um tempo ao passar por dificuldades, voltou a sua terra natal. Sua infância não foi fácil, mas desde cedo demonstrava sua vocação para a música e o sonho de ser artista, apesar da oposição da mãe, que como quase todas as mães da época, achava que a carreira artística não traria segurança.
Zilmar Borges Basilio, sua sobrinha, contou a Nação Brasil que “O sonho de viver no Rio de Janeiro, porém, não morreu. E começou a aproximar-se da realidade quando um circo foi armado em Trajano de Moraes e despertou de vez sua sensibilidade artística. Tão apaixonada ficou pelos espetáculos que, em troca de um saco de feijão que ofereceu ao trapezista, conquistou o direito de conhecer os bastidores e ver os espetáculos quando desejasse. Na despedida do circo, só lhe vinha a cabeça a vida maravilhosa dos artistas, que podiam viajar a vontade por “esse mundão de Deus”.
Ouviu novamente o tio Euclides, que lhe chamou a atenção para o que parece óbvio, mas que nem todos compreendem: para ingressar na carreira artística teria de ter garra para superar todas as dificuldades. Ir a luta enfim. E foi o que ela fez. Viajou para o Rio e tratou de arranjar emprego para assegurar a sobrevivência.”
Batalhando pelo seu sonho de seguir a carreira de cantora ela estudou muito até sentir-se preparada, ela inscreveu-se como caloura em uma competição musical no programa da rádio Tupi de Ary Barroso, e saiu vencedora com a nota máxima, onde cantou a valsa “Bonequinha de seda”, de Gilda de Abreu e Narbal Fontes. Classificou-se para a etapa final do concurso de calouros, onde cantou o samba “E o mundo não se acabou”, de Assis Valente, e conquistou o primeiro lugar. Daí em diante, surgiram muitos convites para apresentar-se em clubes, boates, e programas de rádio.
Conheceu o cantor e compositor Henrique Felipe da Costa (o Henricão), que a batizou de Carmem Costa, e passou a fazer parcerias com ele que fazia adaptações de musicas estrangeiras que renderam a Carmen dois dos maiores sucessos da sua carreira: as adaptações feitas no tango “Carmelito” e na canção mexicana “Cielito lindo”, que, na adaptação, virou “Está chegando a hora”.
Com a carreira em ascensão, passou a cantar em todo o Brasil, ficando conhecida por um timbre de voz magnífico e uma personalidade ímpar. “Carmem Costa é uma das maiores estilistas da música popular brasileira”, afirma o poeta e compositor Hermínio Bello de Carvalho, profundo conhecedor do assunto. No final da década de 40, na feira de Manaus, conheceu o americano Hans Van Koehler, com quem se casou mais tarde, o que a levou a dividir a sua vida entre o Rio de Janeiro e Nova York.
Apresentou-se inúmeras vezes em rádio, televisão, clubes e casas noturnas dos Estados Unidos, inclusive no famoso show que lançou a bossa nova naquele país, em dia 22 de novembro de 1962, no Concerto do Carnegie Hall, em Nova Iorque, ajudando a firmar o nome do Brasil e da Bossa Nova no exterior. Nos anos 50 voltou ao Brasil, quando conheceu o compositor Mirabeu Pinheiro, com quem viveu um romance e teve sua única filha, Silezia Madriaga.
Juntos tiveram sucessos como “Cachaça não é água” e “Obsessão”, Desta mesma época foi o samba-canção de Ricardo Galeno “Eu sou a outra” (“ele é casado/eu sou a outra na vida dele…”), que retratava uma situação que a própria Carmen vivia e, anos depois, assumia, enfrentou preconceito por se apaixonar por um homem casado em uma sociedade tradicional.
Sua última gravação foi com o cantor Elymar Santos, de quem era convidada especial em alguns shows. Faleceu em 2007 aos 87 anos, com uma longa carreira marcando um dos capítulos não só dos mais expressivos e bonitos da história da nossa música.
Em 2003, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou um projeto de iniciativa do Museu da República e tornando-a patrimônio cultural do Brasil. Em 2017 no 19º Encontro de Seresteiros a Prefeitura de Trajano de Moraes juntamente com o Diretor de Cultura Weber José Gomes e artistas locais prestaram uma homenagem, aqui ela é lembrada com carinho.
“Falar de Carmen Costa é manter sua memória viva, filha ilustre na nossa Trajano de Moraes, ela é merecedora de todas as homenagens com sua voz encantou o mundo inteiro através de suas canções” afirma o Secretário de Cultura Weber José Gomes.
Nossa Diva negra da música brasileira resistiu com sua voz talentosa desafiando os obstáculos como a pobreza, riscos e preconceitos que enfrentou ao sair do interior e investir na carreira artística. Realizou o sonhos de muitas sonhadoras como elas.
Seus sucessos imortalizados são entoados até hoje nos carnavais, os versos “Você pensa que cachaça é água”, de “Cachaça não é água”, e “Quem não chora não mama/Segura meu bem a chupeta”, da “Marcha do Cordão da Bola Preta”. Viva Carmen Costa!
POR ROSIANE FONSECA, HISTORIADORA